Nilton Ferreira

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Carta aberta ao Amigos e a cultura Rio Grandense.
Durante mais de vinte anos eu me dediquei a uma causa que sempre acreditei ser o laboratório musical mais importante do mundo, e eu não estava errado, vida longa OS FESTIVAIS DE MÚSICAS.
Nesses mais de vinte anos aprendi muito com muitos, aprendi a respeitar o limite dos outros e até mesmo os meus limites diante da enorme concorrência sadia em cada fim de semana, em cada cidade visitada.
Comecei num tempo em que fazer música era prazeroso e dava aquele frio na barriga quando chegava o momento de acender as luzes para os quatro ou cinco minutos mais importantes de nossas vidas e só depois, então, saberíamos quanto era a ajuda de custo e nem importava se cobria realmente esses custos, o que mais importava era a magia de se fazer música nessa cultura magnífica.
Os tempos mudaram - e que bom que mudaram -, muita coisa mudou pra melhor e isso tenho a obrigação de reconhecer.
Os festivais de música, pra mim, sempre foram a forma mais rápida pra chegar aos corações das pessoas e isso eu aproveitei ao máximo e com muita intensidade afinal, só quem realiza um evento nesses moldes sabe o trabalho que dá para fazê-lo, portanto sempre tiveram o meu respeito..
Os festivais me moldaram, me profissionalizaram e me educaram ao mesmo tempo em que sou sabedor da parcela de colaboração que também dei à causa e defendi com unhas e dentes, criticando quando preciso, e aplaudindo quando necessário.
Foi nos festivais que conheci a grande maioria dos amigos que ainda hoje guardo no lado esquerdo do peito, quanta risada, quanta festa, quantos amanheceres, quanto ensaio, quanto nervosismo, quanta dedicação, quanta confiança e quantos aborrecimentos passageiros, desses que duram somente algumas horas depois de uma dose “in natura” de um medicamento chamado esperança com o subtítulo de música nova.
Bueno.
Chegou a hora de me refazer e me estruturar emocional e profissionalmente.
Todos os anos, durante quarenta e três anos de minha vida, comemoro o renascimento de um novo tempo enquanto me despeço do tempo velho.
Confesso que perdi o encanto, perdi a fome de competição, só não perdi o respeito pela causa, mas também confesso que sou sabedor e defensor de uma coisa chamada renovação e é evidente que ninguém tira um pedaço de veste nova para por em uma veste velha, pois rasgará a nova e o remendo não ajustará com a velha.
Estou precisando me recolher da competição mudar meus padrões e continuar cantando e compondo e para isso vou ter que sacrificar alguma coisa antes que eu me torne uma pessoa negativa ,chata e descontente com a causa que tanto defendi.
Chegou a hora de mudar, como faço todos os anos em busca de outros rumos, sem deixar o objetivo maior de lado que é cantar e compor.
Há muito tempo venho me perguntando se é possível uma mudança assim, tão profunda a ponto de tornar possível aquilo que é possível e quem me conhece sabe dessa minha vontade que venho adiando a tempo.
A resposta é:
-Sim é possível mudar! Isso podemos chamar de evolução humana, virar a página e seguir caminhando com a esperança renovada.
Tenho muitos projetos para colocar em prática e para isso, preciso me dedicar para lutar , com a fome e a força que venho perdendo dia após dia quando subo a um palco pra colocar a cultura em julgamento, claro que entendo o movimento e não sou contra essa formula de maneira alguma.
Aos colegas de arte fica o meu mais sincero apreço por cada um, aos amigos das emissoras de radio que são os responsáveis por nossas canções chegarem mais longe muito obrigado parceiros com certeza continuaremos a nos encontrar através das canções e projetos que me dedicarei daqui pra frente.
Já faz um bom tempo que eu tenho me afastado aos poucos e me dedicado a outros projetos.
Seria muito comodo pra mim parar e ficar quieto no meu canto, mas isso seria uma falta de ética, preciso dar satisfação para aqueles que sempre torceram por mim e que fazem parte da minha carreira musical.
Por fim, quero dizer a todos o seguinte:
-A partir de hoje não subirei mais em palco de festivais nativistas para trabalhar em forma de competição, continuarei a fazer minhas canções e dar oportunidade pra aqueles que ainda mantêm essa força dentro de si, o velho “sangue nos olhos”, como carinhosamente falamos.
As canções dedicadas a festivais serão defendidas por amigos, e gente que esteja chegando no meio, isso será a forma mais sensata que achei de não me afastar desse mundo que ajudei a construir.
Saio dos palcos da competição feliz por ter tido tantas oportunidades.
Nos veremos a partir de hoje de uma outra forma que não seja essa tal “COMPETIÇÃO” .
A todos que trabalhei durante esse tempo todo meu mais sincero e respeitoso abraço.
Jaguari grande do sul 18 de junho de 2015.
Nilton Ferreira.

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